Alta dos combustíveis responde por quase 49% da inflação de fevereiro

Os mercados iniciaram há dias uma “mobilização” para pressionar a autoridade monetária, agora autônoma, a retomar a política de aumentos nos juros básicos, tomando como pretexto a elevação dos índices inflacionários nas últimas semanas. Diante do poder de fogo desse pessoal, pode-se mesmo esperar alguma movimentação do Banco Central (BC) na direção pretendida pelo setor financeiro na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) prevista para os próximos dias 16 e 17. O cassino dos juros adoraria ver uma alta da taxa básica para 3,0% ao ano, saindo dos 2,0% que vigoram desde agosto do ano passado. Os mais realistas esperam um acréscimo de meio ponto de porcentagem.

Os juros básicos ainda continuariam em níveis historicamente baixos e inferiores à inflação, caracterizando a permanência de taxas negativas, mas com tendência a sofrer novos aumentos, a depender da capacidade de convencimento dos mercados. Essa perspectiva de correções sequenciais no custo do dinheiro gera ou deveria gerar preocupação, já que os mercados apostam numa taxa básica de 5,0% no final deste ano, o que seria desastroso para o lado real da economia, que já enfrenta aumento nos custos de insumos. Seja como for, o BC autônomo, portanto, parece já ter traçado seu destino imediato e tende a entregar pelo menos parte do que pedem os tais “agentes” dos mercados.

A despeito das pressões de custos experimentadas pela economia em geral, diante de aumentos nos preços das commodities (destacadamente no caso do petróleo, que ontem atingiu US$ 69,53 o barril nos mercados futuros, acumulando aumento de 13,7% em 30 dias) e das oscilações característicasno mercado de dólar, a piora galopante da pandemia em todo o País ao menos deveria ser levada à reunião dos representantes dos donos do dinheiro como um fator ao menosa ser ponderado.O agravamento da crise humanitária, com o número de mortes já superando o número macabro de 2,0 mil pessoas, deveria pelo menos causar alguma comoção nos mercados, já que os efeitos diretos sobre a atividade econômica tendem a ser muito mais severos do que se o País não enfrentasse um desgoverno e tivesse conseguido planejar e organizar uma reação conjunta contra a pandemia, contendo o avanço do Sars-CoV-2 e, portanto, das mortes.

Aceleração

Há dúvidas se o aumento dos juros produzirá efeitos de fato sobre o nível da inflação no País, já que o avanço recente das taxas inflacionárias não parecem ter a menor relação com pressões de demanda (que, ao contrário, tem dado mostras de retraimento neste começo de ano). No mês passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), aferido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingiu 0,86%, depois de ter avançado 0,48% nas quatro semanas encerradas no dia 15 de fevereiro – o que demonstra forte aceleração em apenas uma quinzena, de fato. Em janeiro, o índice havia registrado 0,25% (acumulando, portanto, incremento de 0,61 pontos em 30 dias). A taxa de variação dos chamados “preços livres” subiu também, de 0,44% em janeiro para 0,57% no mês seguinte, numa variação muito mais contida (0,13 pontos).

Balanço

Na composição do IPCA de fevereiro, o peso dos combustíveis foi determinante. Por culpa da política de transmissão quase automática dos aumentos do petróleo no mercado internacional, adotada pela Petrobrás desde 2016, como se o País fosse integralmente dependente de importações nesta área.

Naquele mês, em conjunto, os preços da gasolina e do óleo diesel experimentaram altas de 7,11% e de 5,40%, com o etanol subindo 8,06% (por influência dos preços mais altos da gasolina, sua concorrente direta, e pela entressafra da cana, que reduziu a oferta doméstica). Essas altas levaram a um aumento conjunto de 7,09% para os combustíveis, o que, por sua vez, foi responsável por 48,8% do IPCA de fevereiro.

A contribuição dos aumentos naquela área sobe para praticamente 52,8% se considerada a variação de 2,98% sofrida pelo gás de botijão. Descontados esses aumentos, os demais preços experimentaram variação de 0,41% aproximadamente, ainda assim acima da taxa de 0,25% registrada em nos 30 dias terminados na segunda semana do mês passado (igualmente com a exclusão de combustíveis e gás).

*Com informações Jornal o Hoje

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